Circe Clingert
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Portfólio de
Experimentações gráficas em livro e vídeo
▩ MEMÓRIA (2019)
Um retrato sem data exata, sem nomes, perdido entre os arquivos, onde as informações não são mais suficientes para evocar sua história, as pistas não batem, o ano não condiz com a vestimenta, e ninguém sabe dizer a quem e a que tempo pertence a imagem. Só resta o fato de ser uma memória vaga, de alguém, que possivelmente é da família, pelo fato de estar ali presente, no álbum.

Uma fotografia é um documento, um arquivo, tentativa de reter o presente e preservar o passado. Mas como as imagens da memória, o arquivo está sujeito a ruína, tanto pela deterioração física pela ação inevitável do tempo, quanto pela perda de sentido, pelo esquecimento.
Estamos sempre lidando com o esquecimento, no escurecimento dos fatos, na perda da informação, no apagamento da memória, na invisibilizarão do passado. Seja em nossa esfera, pessoal e familiar, quanto na esfera política e histórica. O apagamento nem sempre é fruto do acaso natural do tempo, ele pode ser uma ferramenta de controle, ao afastar um povo de sua história, da consciência de suas origens, corromper arquivos, adulterar fatos, silenciar o passado. Esse apagamento tem um efeito assombroso, sendo capaz de mergulhar toda uma pátria na desinformação.

Não olhar para o passado, não duvidar da história oficial, não cavar os arquivos para devolver a nitidez das imagens, não trazendo elas à tona, e encarando de frente as lacunas do esquecimento, é tornar-se frágil.

Dar uma nova voz a uma imagem, é permitir resgatar sua memória nos rastros, mesmo que ela seja o retrato do esquecimento, da perda. Olhar para o esquecimento é um ato político. Cavar lacunas é um ato de memória.


MEMÓRIA (2019)

A medida que o tempo passa as memórias vão “desbotando”, o que é simbolizado no Flipbook "Memória" por um retrato que muda de tonalidade e vai do claro ao escuro, em um jogo entre o apagamento dos contornos identificáveis da imagem pelo excesso de luz e excesso de sombra. Através desses dois extremos a mesma imagem ganha diferentes nuances ao passar as páginas. O apagamento e a nitidez da mesma imagem se dá pelo próprio movimento do passar das páginas. O livro de artista "Memória" foi lançado no estande da feira de arte impressa "Tijuana", parte da programação do "Baphoto" em Buenos Aires em setembro de 2019.

Formato: 10x7
impressão jato de tinta
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Thyana Hacla